26 de ago. de 2009

Um Breve momento de Graça (parte 2)

Durante a nossa vida, alguns acontecimentos nos marcam. E o que sempre iremos lembrar é de como reagimos a esses acontecimentos, muitas vezes dolorosos. E aí está a grande diferença entre os homens, a forma como cada um reage a determinadas circunstâncias. Às vezes é difícil expor fatos como esse de nossas vidas às pessoas. É difícil ser um “livro aberto”. Entretanto, num lugar propício, com os ouvidos certos para ouvir, com o coração amolecido mesmo que às custas de um pouco de álcool, as coisas afloram. Em meio a esse cenário, ouve-se uma história comum. A de uma criança que absorve os problemas de seus pais. Poderia ser qualquer tipo de problema, mas trata-se de uma traição. Traição do marido para com a esposa. A dor desta mulher é tanta que ela se esconde dentro do guarda-roupa para choramingar sua dor. Ela está ferida, dilacerada, querendo, talvez, sumir, se esconder de tudo e de todos. No entanto, inesperadamente, a pessoa errada abre a porta do guarda-roupa, sua filha, que ouvira seus soluços do quarto vizinho, e, curiosa, vai até a fonte do som. Quando a mãe a vê, tenta se desvencilhar das perguntas da menina, mas não por muito tempo. Ela quer desabafar, quer contar o que sente para alguém e não tem dúvidas: conta tudo para sua filha. Expõe sua dor e a vergonha de seu marido. Agora, a menina estava envolvida e seria o ouvido seguro de sua mãe por muito tempo. Enquanto ouvia essa história pensei: “Ela deve ter ficado com muita raiva do pai. Quando isso acontece, o respeito de um filho para com seu pai vai embora com o vento!”. Em meio a meus pensamentos perguntei se ela sentira raiva ou mágoa do pai por isso. A resposta não esperada foi mais surpreendente: “Nunca! Eu amo meu pai!”.

[Gabrielle Lins de Souza]

    

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