Estudioso de teologia, Cavalheiro não pertence a denominação religiosa
específica, mas assume sua formação evangélica. O tema tratado na obra
desde sempre o intrigou, tanto quanto a outros autores que investigaram a
quase reclusão do Cristo. Personagem emblemático, daqueles que oferecem
múltiplas possibilidades a quem escreve, Jesus inspirou, e ainda
inspira, um sem número de versões de sua própria vida. Dele já se
contou, seguramente, de tudo um pouco.
Na Bíblia consta que ele nasceu da Virgem Maria, operou milagres, caiu
em desgraça com o governo da época que o encarava como uma grave ameaça
ao sistema então vigente, foi condenado à morte por crucificação e
ressuscitou. Carlos Cavalheiro, no entanto, quis ir além e foi buscar
informações sobre o por que de, a partir de certa época, Jesus ter sido
relegado ao ostracismo. É curioso, para dizer pouco, que alguém com a
importância do filho de Deus, tenha simplesmente desaparecido, sem
deixar rastro.
Não foi o que aconteceu, na verdade. Cavalheiro lembra que, antes, aos 12 anos,
Jesus Cristo protagonizou a célebre discussão com os doutores, conforme
relatado por Lucas. Era costume os pais levarem seus filhos a Jerusalém
na Festa da Páscoa. E o mesmo aconteceu com Jesus, que foi para lá e
acabou ficando na cidade, sem que José e Maria soubessem. Os dois
pensavam que ele tinha seguido viagem de volta com outros do grupo e, ao
descobrirem que não, retornaram e o encontraram no templo, ouvindo e
interrogando os eruditos, como eram chamados. O então adolescente
impressionou a todos por sua inteligência.
A partir daí, Jesus parece ter tomado rumo ignorado. Ou melhor, há quem
acredite que teria seguido com destino à Índia e lá se mantido. Carlos
Cavalheiro, porém, soma-se aos teóricos que não concordam com essa
possibilidade. A tese, argumenta, baseia-se em provas inconsistentes e
circunstanciais. “São citações reproduzidas sem aprofundamento”, diz. A
versão de que Jesus teria viajado ganhou força no século XIX, a partir
de estudos divulgados. Um deles, do russo Nicolau Notovitc, revela que,
num monge budista foram encontradas referências sobre o “Santo Issa”,
nome dado pelos muçulmanos a Jesus.
Em “O Mistério Revelado”, o escritor alega que o hiato de dezessete anos,
tão comentado por seu caráter obscuro, não teria despertado o interesse
dos evangelistas, já que nenhum fato mais relevante ocorreu. “Jesus
descobriria o seu Ministério aos 30 anos”, diz Cavalheiro. Na prática, portanto, as mais significativas passagens da vida do Messias tiveram lugar desde então. Em três anos, ele esteve à frente dos episódios que transformariam a história da humanidade.
O livro refere que Jesus Cristo viveu, dos 13 aos 30 anos,
uma rotina normal. Ajudava o pai na carpintaria e fazia o que jovens de
sua idade faziam. Não constam registros de que tivesse se envolvido com
mulheres, como sugerido no best-seller “O Código Da Vinci”. “Para
muitos, a linha que separa a ficção da realidade, no que se refere a
Jesus Cristo, é tênue, mas podemos separar uma coisa da outra”, garante
Carlos Cavalheiro. “Essa é uma discussão válida, salutar, que só
acrescenta”.
Cavalheiro lembra que, para a sociedade da época, as pessoas com 30 anos
eram mais experientes, e se faziam respeitar. “Balzack teria gostado de
saber disso, já que usou esse mote para valorizar as mulheres num de
seus mais conhecidos romances”, brinca. Ele não considera que o trabalho
possa, de alguma forma, comprometer a figura do personagem, ou sua aura
de divindade. “Não me parece ser o caso. As pessoas têm muito claro a
importância de Jesus. Ademais, a pesquisa só procura apurar o que houve
no intervalo de dezessete anos. Eu acredito que tenha colaborado, ainda que em parte, para esclarecer muitas das dúvidas a esse respeito”.
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